Century of the Child

Until November 5th a great exposition at the MoMA in New Yourk: Century of the Child: Growing by Design, 1900–2000.


From the site: "MoMA’s ambitious survey of 20th century design for children is the first large-scale overview of the modernist preoccupation with children and childhood as a paradigm for progressive design thinking. The exhibition will bring together areas underrepresented in design history and often considered separately, including school architecture, clothing, playgrounds, toys and games, children’s hospitals and safety equipment, nurseries, furniture, and books".

To see more you can visit the exposition site here:
http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2012/centuryofthechild/

http://www.moma.org

Roland Barthes - Brinquedos (em Mitologias)

O adulto francês considera a criança como um outro eu; nada o prova melhor do que o brinquedo francês. Os brinquedos vulgares são assim, essencialmente, um microcosmo adulto; são reproduções em miniatura de objectos humanos, como se, para o público, a criança fosse apenas um homem pequeno, um homúnculo a quem só se pode dar objectos proporcionais ao seu tamanho.
As formas inventadas são muito raras; apenas algumas construções, baseadas na habilidade manual, propõem formas dinâmicas. Quanto ao restante, o brinquedo francês significa sempre alguma coisa, e esse alguma coisa é sempre inteiramente socializado, constituído pelos mitos ou pelas técnicas da vida moderna adulta: o Exército, a Rádio, o Correio, a Medicina (estojo miniatura de instrumentos médicos, sala de operação para bonecas), a Escola, o Penteado Artístico (secadores, bobes), a Aviação (pára-quedistas), os Transportes (trens, citroens, lambretas, vespas, postos de gasolina), a Ciência (brinquedos marcianos).
O fato de os brinquedos franceses prefigurarem literalmente o universo das funções adultas só pode evidentemente preparar a criança a aceitá-las todas, construindo para ela, antes mesmo que possa reflectir , o álibi de uma natureza que, desde que o mundo é mundo, criou soldados, empregados do Correio, e vespas. O brinquedo fornece-nos assim o catálogo de tudo aquilo que não espanta o adulto: a guerra, a burocracia, a fealdade, os marcianos, etc. Alias, na realidade, não é tanto a imitação que constituí o signo da abdicação, mas sim a literalidade dessa imitação: o brinquedo francês é, em suma, uma cabeça mirrada de índios Jivaro – onde se reencontram numa cabeça com proporções de uma maçã, as rugas e os cabelos adulto. Existem, por exemplo, bonecas que urinam : possuem um esófago, e se lhes dá mamadeira, molham as fraldas; sem dúvida, brevemente, o leite transformar-se -á em água, em seus ventres. Pode-se, desta forma, preparar a menina para a causalidade doméstica, “ condicioná-la” para a sua futura função de mãe. Simplesmente, perante este universo de objectos fiéis e complicados, a criança só pode assumir o papel de proprietário, do utente, e nunca, o do criador; ela não inventa o mundo, utiliza-o : os adultos preparam-lhe gestos sem aventura,sem espanto, e sem alegria. Transformam-na num pequeno proprietário aburguesado que nem sequer tem de inventar os mecanismos de causalidade adulta, pois já lhes são fornecidos prontos: ela só tem de utilizá-los, nunca há nenhum caminho a percorrer. Qualquer jogo de construção, se não for demasiado sofisticado, implica um aprendizado de um mundo bem diferente: com ele a criança não cria nunca objectos significativos; pouco lhes importa se eles têm um nome adulto: o que ele exerce não é uma utilização, é uma demiurgia: cria formas que andam, que rodam, cria uma vida e não uma propriedade; os objectos conduzem-se a si próprios, já não são uma matéria inerte e complicada na concha da mão. Mas trata-se de um caso raro: o brinquedo francês,de um modo geral, é um brinquedo de imitação, pretende formar crianças-utentes e não crianças criadoras.
O emburguesamento do brinquedo não se reconhece só pelas suas formas,sempre funcionais, mas também pela sua substância. Os brinquedos vulgares são feitos de uma matéria ingrata, produtos de uma química, e não de uma natureza. Actualmente muitos são moldados em massas complicadas: a matéria plástica tem assim uma aparência simultaneamente grosseira e higiénica, ela mata o prazer, a suavidade, a humanidade do tacto. Um signo espantoso é o desaparecimento progressivo da madeira, matéria um tanto ideal pela sua firmeza e brandura, pelo calor do seu contacto; a madeira elimina, qualquer que seja a forma que sustente, o golpe de ângulos demasiado vivos, e o frio químico do metal: quando a criança manipula, ou bate com ela onde quer que seja a madeira não vibra e não range, produz um som simultaneamente surdo e nítido; é uma substância familiar e poética que deixa a criança permanecer numa continuidade de tacto com a árvore a mesa, o soalho. A madeira não magoa, não se estraga também; não se parte,gasta-se, pode durar muito tempo, viver com a criança,modificar pouco a pouco as relações entre o objecto e a mão ; se morre, é diminuindo,e não inchando com esses brinquedos mecânicos que desaparecem sob a hérnia de uma mola quebrada. A madeira faz objectos essenciais, objectos de sempre. Ora,já praticamente não existem brinquedos de madeira, esses ‘redis dos Voges’ [1],só possível, é certo, numa época de artesanato. O brinquedo é doravante químico, de substância e de cor; a própria matéria- prima de que é construído leva a uma cinestesia da utilização e não do prazer. Estes brinquedos morrem, aliás, rapidamente,e , uma vez mortos, não têm para a criança nenhuma vida póstuma.


Barthes, Roland. Brinquedos. In: Mitologias. São Paulo: Diefel.1982. Pp. 40-2

Creditos: http://pequenidades.blogspot.pt/