Barbie Dream House

Em Abril publiquei um post sobre a recente decisão da Mattel em criar uma Barbie arquitecta no seguimento da operação “I can be…” - pouco tempo depois a produtora de brinquedos norte-americana ter anunciado que a “carrer of the year 2011” seria, justamente, arquitectura, associando-se à AIA (American Institute of Architects) na promoção de um concurso chamado “Architect Barbie Dream House Competition”.


A ideia de uma casa para a Barbie não é certamente nova, já na década de 1960 havia a possibilidade de comprar uma verdadeira mansão ricamente mobilada e com todos os luxos para a boneca que, na altura, simbolizava a sociedade de consumo, a modernidade e a emancipação da mulher. Desta vez a Mattel promoveu o lançamento do concurso na tentativa de contrariar as notícias embaraçosas que, em Junho de 2011, tinham sido divulgadas pela organização não governamental Greenpeace.  No dia 7 os activistas desenrolaram da cobertura das instalações da Mattel na California enormes cartazes onde aparecia Ken de cara triste que declarava “I don’t date girls that are into deforestation”. A acusação da Greenpeace tinha a ver com o facto da Mattel ter comprado a materia-prima para as suas embalagens da companhia Asia Pulp and Paper (APP), do grupo Sinar Mas. Este grupo foi acusado, sempre pela Greenpeace, de ser o maior destruidor da floresta virgem da Indonésia. No seguimento destas acusações, as empresas Carrefour, Staples, Office Depot e Woolworths pararam de comprar o papel da APP.


Com uma manobra que pretendia ser moralista, ecologista e comercial ao mesmo tempo a Mattel promoveu um concurso baseado em valores contemporâneos tais como a diversão, a moda e a natureza, sem esquecer o conforto para uma vida moderna. No edital do concurso era pedido um projecto para uma “Barbie Dream House” com algumas caracteristícas específicas: “A sleek, smart home office is important for any doll. With more than 125 careers, I need a spacious office that can accommodate my hi-tech gadgets for meetings, client visits and presentations. I love to entertain so I need living and dining areas that are open and connected allowing for mingling and easy entertaining from one room to the other.
The kitchen should be functional and fabulous with top-of-the-line appliances—large countertops and lots of space to cook. I also love natural light in my kitchen so windows are critical. I am quite the chef you know! 
As the original “fashionista,” you can imagine how large my closet needs to be! I have unlimited fashions and accessories, so I need lots of shelving, shoe racks and a closet that can be easily organized - getting ready can’t be a chore every day.
My dream bathroom: a large, stylish space accessible from the master bedroom and other areas.
I love animals and I have as many as five pets (including a giraffe) around at any given time. A big backyard is very important so they can roam and play! (...)” enfim, não podia faltar mesmo nada.

Entre as trinta propostas que foram entregues, a Mattel elegeu as cinco que ficaram a disputar o primeiro lugar através de votação pública na qual participaram 8.470 entre adultos e crianças. Ganhou a dupla composta pelas arquitectas Ting Li e Maja Paklar com uma casa altamente ecológica. Na memória descritiva do projecto as autoras afirmavam que “Barbie is on a mission to set an example to be sustainable wherever she can. Her house proudly utilizes solar panels, operable shading devices, low flow bathroom fixtures, energy saving light fixtures, and efficient HVAC equipment. The house occupies minimum footprint as it cantilevers over a bluff, she landscapes her yard, roof and terraces for cooling and visual effects. In order to reduce CO2 emission, Barbie opts to ride her Pink Vespa around town instead, and if she needs to haul her shopping bags, Ken is never far behind in his convertible”. A casa chega a respeitar os padrões do USGBC, o U.S. Green Building Council.

A proposta vencedora
Esta iniciativa lembra, com outros protagonistas e noutro contexto, uma história que já tive oportunidade de contar neste blog e que aconteceu em 1983 com a revista Architectural Design quando esta resolveu lançar um concurso para uma casa de bonecas.

Apesar de não conhecer todas as outras propostas, não acho a vencedora particularmente interessante. Todavia tenho que admitir que, no contexto de uma "cultura Barbie", consegue despertar para alguns dos aspectos centrais da arquitectura. A criação de espaços e a sua adequabilidade ao programa, a articulação de vários compartimentos, a implantação no lote e, claro, a pegada energética da casa, são todas questões que são levantas e apontadas pelo projecto de Ting Li e Maja Paklar.

Duas proposta excluídas

E o que podemos pedir mais de um brinquedo se não o de despertar a curiosidade das crianças sobre alguma coisa? De pó-las a pensar de forma diferente sobre um objecto tão comuns e, aparentemente, tão banal como a casa?

Isto é o papel e a responsabilidade de um “architectural toy”.