2ª parte - A Exposição Universal de 1876

No dia 10 de Maio de 1876, abre, em Filadélfia, Pensilvânia, a primeira Exposição Mundial dos EUA, para comemorar o centenário da assinatura da declaração de independência que aconteceu em 1776, também em Filadélfia.

Oficialmente chamada “International Exhibition of Arts, Manufactures and Products of the Soil and Mine”, a exposição era absolutamente gloriosa e contou com nove milhões de visitantes (quando a população dos EUA era de 46 milhões). Foram construídos mais de 200 edifícios novos no interior de um recinto que media mais de quatro quilómetros de comprimento. No interior dos edifícios os visitantes podiam ver enormes máquinas a vapor em funcionamento, animais exóticos e objectos vindos de todo o mundo (participaram 44 países). Juntamente com uma cerebração do poder científico e industrial, um mundo já globalizado mostrava-se e deixava-se tocar no seu esplendor (na feira foram vendidas, pela primeira vez, bananas. Embrulhadas em papel de alumínio, eram consideradas um tratamento exótico). Para ter uma ideia, baste pensar que o edifício principal, uma elegante estrutura em ferro e vidro, tinha 580 metros de cumprimento e cobria uma área de 81.000 metros quadrados.

No recinto da feira tinham sido instaladas, entre as outras, duas exposições que resultaram, no que interessa para a nossa história, extremamente importantes. Mais especificamente dois sistemas educativos que, por razões diferentes, passaram a história.

O primeiro é o que ficou conhecido como sistema russo ou método sequencial era fruto das teorias educativas de Viktor Karlovich Della-Vos (1829-1890). Físico, matemático, engenheiro mecânico, professor de mecânica na Academia Petrovsky (1864), da academia imperial técnica de Moscovo (1867), Della-Vos defendia a importância da inclusão de um treino manual, com aumento progressivo de dificuldade, no ensino. Desta forma, perfeitamente integrado no espírito da época e, sobretudo, da feira de 1876, defendia a forma através da qual a escola deveria preparar os estudantes para a futura era industrial.

O que aconteceu foi que entre os nove milhões de visitantes da feira estavam três pessoas especiais. Uma era Calvin Woodward da Washington University, outra era John D. Runkle, presidente (entre 1879 e 1879) do recentemente aberto MIT (acerca da terceira irei falam mais adiante). Tanto Woodward como Runkle ficaram impressionados com a pedagogia de Della-Vos e, ao voltar para casa, adoptaram os seus perceptos nas respectivas universidades. É possível afirmar que Della-Vos pode ser considerado o compadre do ensino técnico e das artes manuais em todo o mundo.

A outra exibição presente na feira provavelmente não estava muito em sintonia com o sistema russo, mas provocou um conjunto de eventos que, entre outras coisas, deixaram uma profunda marca na historia da arquitectura. Junto ao Pavilhão da Mulher, foi construído um Kindergarten Cottage. Criado pela Froebel Society of Boston no Cottage uma professora treinada, Ruth Burritt, ensinava dezoito crianças do orfanato de Pensilvânia três dias por semana. Burritt explicou os métodos de Fröbel a centenas de visitantes e às crianças que estavam com eles: “uma simples rotina de jardim-de-infância, brincar, cantar, jogos de movimento e manipulação dos brinquedos de Fröbel”. O espectáculo, que era substancialmente um dia passado num jardim de infância com pausa para almoço, estava sempre, sistematicamente, lotado. Mesmo alguns visitantes mais ligados à indústria ou às obras, ficavam atraídos pela suavidade e doçura do espectáculo.

Juntamente com o Kindergarten Cottage havia na feira um stand da Milton Bradley Company. Esta firma produzia e vendia vários brinquedos infantis, material didáctico além de cópias dos conjuntos de prendas de Fröbel. Desta forma não só era explicado o processo do jardim-de-infância e enunciada a teoria subjacente, mas também era possível aos visitantes comprar os brinquedos para experimentar o método Fröbel em casa, com os próprios filhos. Esta combinação, apesar de ter evidentes fins comerciais, apontava para um novo paradigma educativo onde o lugar e o tempo da aprendizagem e do desenvolvimento da criança não se limitam aos infantários ou a escolas mas são também as casas e os tempos livres com a família e com os amigos numa actividade que era simultaneamente lúdica e educativa.

A terceira pessoa que visitou a exposição, e que interessa para a nossa história, chamava-se Anna Lloyd Jones (1838-1923). Era uma educadora de infância casada com William Carey Wright, um professor de música, advogado ocasional e político itinerante. Educadora já experiente, Anna ficou de tal maneira interessada nas demonstrações feitas no Kindergarten Cottage que, quando voltou para Boston, comprou logo um conjunto de prendas de Fröbel. Não sabemos se eram peças originais ou cópias da Milton Bradley, o que sabemos é que o conjunto destinava-se a seu filho Frank que na altura tinha nove anos.

Para quem ainda não tenha percebido, o pequeno Frank, era Frank Lloyd Wright (1867-1959), a criança que se virá a tornar, mais tarde, num dos arquitectos mais famosos e influentes do século XX. Em 1943, na sua autobiografia Wright escreverá que: “fui trabalhar com Adler e Sullivan com os meios, ou com as armas, da educação do Kindergarten de Fröbel que a minha mãe me tinha dado quando era criança. (...) a minha mãe adoptou o ensino de Fröbel de não permitir às crianças o desenho ao vivo das fortuitas aparências da natureza até estes não controlar por completo as formas típicas que as aparências escondem. Na mente das crianças tinham que se manifestar, antes de qualquer outra coisa, os elementos geométricos universais”. O que consta também, mesmo que em jeito de mito, é que a mãe de Frank forrava as paredes do seu quarto com imagens de catedrais e de outros edifícios para ajudar a educação do filho para a Arquitectura.

Se é mito ou verdade não sabemos ao certo, o que sabemos ao certo é que Anna conseguiu criar um grande arquitecto.

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