V&A Museum of Childhood em Londres

Para quem goste de brinquedos e esteja a programar uma visita a Londres aconselho agendar uma ida ao V&A Museum of Childhood (Cambridge Heath Road London E2 9PA).
Alguns anos atrás estive no de Sintra, em Fevereiro no de Nuremberga e tenho que dizer que o de Londres é, entre estes, o museu mais interessante e variado. Encontrei alguns brinquedos antigos verdadeiramente fantásticos como caixas originais de construções ANKER ou uma casa de bonecas de 1930 produzida pela Lines Brothers (o maior produtor de brinquedos inglês do século XIX) com linhas modernas que só tinha tido oportunidade de ver em livro. Mas também voltei ao meu passado através de uma excelente selecção de brinquedos da minha geração como pistas de carros, jogos electrónicos (típicos da década de 80) ou ainda uma consola de jogos Atari.

Esta visita, que tinha planeado antes da partida, permitiu aprofundar um pouco o tema dos museus de brinquedos e a coisa resulta ser mais complexa, e por isso interessante, e do que parece. A este propósito encontrei um interessantíssimo artigo que trata, justamente, do problema do enquadramento disciplinar, ou histórico, dado aos brinquedos (Anthony Burton. 1997. Design History and the History of Toys: Definig a Discipline for Bethnal Green Museum of Childhood. Journal of Design History Vol. 10 nº 1). O problema é, mais ou menos, o seguinte: na classificação clássica dos museus (pintura, escultura, artes gráficas, têxteis, produção industrial, etc…) onde ficam os brinquedos? Pois o que não tem categoria é tralha e não merece ser guardado e, tão pouco, conservado e exposto.

O artigo conta muito bem as dificuldades que tiveram os sucessivos directores do Victoria & Albert Museum (do qual o Museum of Childhood faz parte) em encontrar critérios tanto para defender a criação e manutenção da colecção de brinquedos como, e sobretudo, para separar os que mereciam ser expostos dos que nem sequer tinham que ser aceite, mesmo que dados.
O resultado deste esforço está, de facto, à vista. Quem conhece o Museu do Brinquedo de Sintra, por exemplo, não poderá deixar de notar que este, apesar de ter uma colecção, notável mantém o cunho do seu criador, João Arbués Moreira. Também o de Nuremberga, que visitei em Fevereiro, está claramente fechado em torno de uma colecção com evidentes limites cronológicos e geográficos.
O artigo citado tenta esta leitura e reconhece cruzamentos entre a história do brinquedo e a etnografia, a psicologia, a história económica ou a sociologia.
De facto já tivemos oportunidade de ver, nos artigos anteriores, a ligação que existe, por exemplo, entre os avanços da pedagogia e o desenvolvimento dos brinquedos ou ainda entre certos brinquedos e o enquadramento cultural no qual tiveram sucesso. Mas poderíamos também citar os jogos electrónicos e a Guerra Fria, a Barbie e o papel da mulher ns anos 60 nos EUA ou ainda a forma como a produção de brinquedos segue a industria automobilística, a moda ou a música.
Em suma, os brinquedos fazem parte daqueles objectos que se inserem, que contaminam e que são contaminados por uma cultura material que caracteriza um período histórico, um país, uma cidade ou, em última análise, mesmo uma pessoa. Visitar um museu como o de Londres é visitar uma parte de história que nos pertence um pouco a todos e ter a oportunidade de reconstruir um pedaço deste passado comum.

Gosto, então, tentar adivinhar: qual, entre os brinquedos das minhas filhas, mereceria ficar num museu?

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